Um Desabafo Negro

Consciência não tem cor, mas tem propósito, hoje me entristeci com a atitude de alguns alunos que queriam ir embora, sem sequer assistir a apresentação preparada pelos próprios colegas de escola. “Se eu soubesse que era isso, eu nem vinha” e o outro “Libera a bola pra gente ir pra quadra, mente vazia é oficina do diabo”. Respirei fundo naquela hora; uma grande indignação me tomou e eu simplesmente respondi, aos dois alunos negros que estavam falando comigo: - Primeiro, que é uma enorme falta de consideração e respeito de sua parte não querer prestigiar o trabalho dos seus colegas. E sua mente está vazia porque você não quer enchê-la com boas informações, como, por exemplo, o conteúdo da palestra que está acontecendo no auditório. Não acho que minha função como vice-diretor seja pegar alunos pelo braço para levar para esse ou aquele lugar, os alunos estavam cientes das apresentações, mas preferiram vagar pelo pátio da escola, algo muito triste. Semana da Consciência Negra é o escambáu, pois o que muitos deles querem é uma oportunidade para dançar o pagodão com letras depreciativas a eles mesmos, do lado de cá temos que continuar nossa luta para quebrar os paradigmas sociais, políticos, econômicos, sociais e culturais, lutar para nos livrarmos dos grilhões que ainda hoje tanto nos machucam.

Reflexões...

As pessoas engordam, emagrecem, acordam despenteadas e disfarçam suas imperfeições físicas com roupas, coletes, maquiagens, tatuagens, plásticas, mas são incapazes de esconder alegria tristeza e melancolia quando são olhadas nos olhos, pois eles revelam os segredos não ditos, as coisas que não queremos que os outros saibam, o brilho de uma peraltice ou a sombra de uma memória ruim... Nada pode ser ocultado quando vem “do espelho da alma”, a pena é que as pessoas continuam analisando, a roupa, a casa, o carro, as posses, esquecendo do que é mais importante: a pessoa por trás das coisas que ela carrega, pois a verdade que ela carrega é imaterial, é um conjunto de pequenas vitórias pessoais, algumas frustrações, outras tantas desilusões e tantas mais alegrias. Não é fácil ver quem são as pessoas que encontramos, mas façamos o exercício de olhá-las nos olhos e permitir que também nos vejam e, quem sabe assim, esses espíritos possam dialogar e aprender uns sobre os outros, e crescerem ajudando-se a fazer do mundo um lugar melhor para se passar o breve tempo de uma vida.