As vezes me toma a poesia
Como se fosse eu um copo com água
E ela, um passeante no deserto...
Sinto-me consumir pelos versos
Sinto mais do que embebido, bebido
Perdendo o que tenho para as palavras que me tomam
Assim me perco em mim mesmo
Por mais clichê que isso possa parecer
Ao meu redor tudo transborda poesia
O copo encima da pia, a bolsa no canto vazia
Os dedos escorregando no violão
Querendo outro destino... sei não
Uma nuca desnuda, uma cintura macia
Fecho os olhos pra sentir o cheiro da poesia
As palavras dançam no escuro da minha mente
Enquanto ávido e consciente penso porque tanta gente
Deixa semente que não quer cultivar
Mas questões densas não me servem,
Apesar de querer entender o cerne
Melhor mesmo é viver entre palavras e notas e acordes,
Pois quando acordo do meu devaneio ainda tem poesia aqui
Ali e acolá, em Teresina, no Piauí, ou pertinho do Guarujá
E enquanto alguns choram eu rio
Rio por onde passam peixes e histórias,
Águas de todos os meses, de todas as estações
Restos de tocos e pés dos vizinhos,
E fluindo como água que se acaba no copo onde a bebemos
Acabam-se os versos num surto pequeno
De nexo duvidável e métrica lastimável
Foi-se ao mundo a angustia de um momento
Fábio Bispo, 26/09/2015. Sábado, 6:23h.