sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Somos muito bons em sermos maus.


 

De todas as pessoas que podem nos machucar, somos os melhores em fazer isso, conhecemos detalhes sobre nós mesmo que mais ninguém sequer imagina, somos algozes vorazes quando o assunto é lidar conosco. Criamos expectativas que desenham realidades imaginárias só pelo mórbido "prazer" de nos decepcionarmos; nem sempre é algo consciente, mas fazemos isso para podermos reclamar, sofrer ou simplesmente sentir algo diferente do conforto que quase nunca nos autorizamos a ter. 
Freud em seu texto "Os que fracassam no triunfo" já nos alertava sobre a nossa potencial tendência em não saber lidar com o sucesso: "Tanto maior será a surpresa, mesmo a confusão, quando o médico descobre que às vezes as pessoas adoecem justamente quando veio a se realizar um desejo profundamente arraigado e há muito tempo nutrido. É como se elas não aguentassem a sua felicidade, pois não há como questionar a relação causal entre o sucesso e a doença.
É estranha, mas não incomum, esta situação: criamos bases sólidas e estáveis para apoiar as nossas inseguranças e lá, elas podem desequilibrar, ao seu bel prazer, toda a estrutura da nossa psique. Entretanto, não é fácil mas, é possível combater a tendência de auto depreciação e autosabotagem ligadas a acharmos que somos merece-dores, a palavra é o caminho e para além da palavra, a linguagem é uma possibilidade, uma forma com a qual podemos transcender, "sublimar", pois nos permite ser transforma-dores e construir uma base paralela que sustente o nosso desejo e a angústia de bordejá-lo sem culpas. Por isso a Psicanálise é uma via que dá caminho para (re)pensar o lugar do sujeito e como ele(a) se trata, ou se maltrata, como desenha, e às vezes desdenha, a sua própria história de vida, para com isto lidar melhor com o equilíbrio dessas forças constitutivas presentes em cada um de nós.