De todas as pessoas que podem nos machucar, somos os melhores em fazer isso,
conhecemos detalhes sobre nós mesmo que mais ninguém sequer imagina, somos
algozes vorazes quando o assunto é lidar conosco. Criamos expectativas que
desenham realidades imaginárias só pelo mórbido "prazer" de nos decepcionarmos;
nem sempre é algo consciente, mas fazemos isso para podermos reclamar, sofrer ou
simplesmente sentir algo diferente do conforto que quase nunca nos autorizamos a
ter.
Freud em seu texto "Os que fracassam no triunfo" já nos alertava sobre a
nossa potencial tendência em não saber lidar com o sucesso: "Tanto maior será a
surpresa, mesmo a confusão, quando o médico descobre que às vezes as pessoas
adoecem justamente quando veio a se realizar um desejo profundamente arraigado e
há muito tempo nutrido. É como se elas não aguentassem a sua felicidade, pois
não há como questionar a relação causal entre o sucesso e a doença."
É estranha,
mas não incomum, esta situação: criamos bases sólidas e estáveis para apoiar as
nossas inseguranças e lá, elas podem desequilibrar, ao seu bel prazer, toda a
estrutura da nossa psique. Entretanto, não é fácil mas, é possível combater a
tendência de auto depreciação e autosabotagem ligadas a acharmos que somos
merece-dores, a palavra é o caminho e para além da palavra, a linguagem é uma
possibilidade, uma forma com a qual podemos transcender, "sublimar", pois nos
permite ser transforma-dores e construir uma base paralela que sustente o nosso
desejo e a angústia de bordejá-lo sem culpas. Por isso a Psicanálise é uma via
que dá caminho para (re)pensar o lugar do sujeito e como ele(a) se trata, ou se
maltrata, como desenha, e às vezes desdenha, a sua própria história de vida,
para com isto lidar melhor com o equilíbrio dessas forças constitutivas presentes em cada
um de nós.