domingo, 27 de outubro de 2019

Desperta-dor



O despertar é algo misterioso, "morremos" enquanto estamos dormindo, independente de por quanto tempo ou quão profundo é o sono; independente também do tipo de sono (ausência de realidade) que estamos tendo, o despertar é algo misterioso! Esse sono pode ser um torpor desperto, uma abstenção volitiva dos sentidos, na esperança de aliviar sofrimentos silenciar o que de fato importa, o que pode mudar efetivamente uma vida, e em sendo assim, teme-se despertar, encarar a si de olhos bem abertos diante do espelho.
Saber sobre nós é acordar, entrar em acordo, em consonância com forças que nos movem além do simples querer, mas enxergar o desejo é difícil, arriscado e, porque não dizer, perigoso; e por 'peri-gozo', pode se ler "ao redor do gozo", onde esse gozo é o sono, a morte de sentidos, no afã de fazer sentir, mas será que só sentir basta? Sentir qualquer coisa de qualquer jeito? Girar, rodar com os olhos fechados e os braços abertos. E o que se quer com isso? Cair em si? Cair de si? Seja como for, antes da queda ficar-se-a tonto e terá a certeza ao parar de que o mundo gira, sem que você controle isso.
Cada vez que o desperta-dor tocar, o mundo te chama de volta à realidade, e você revive, ou "re-vegeta", sem ser senhor(a) de si, preso em convicções e certezas vans, mas para sair do lugar do sono (mortal e paralisante), faz-se necessário que se quebrem os paradigmas, que seja o que melhor você pode ser para si próprio, e só assim o mundo, o seu mundo, lhe será imensamente grato, pois terá você acordado, e se dado às cores que o despertar lhe oferece.

domingo, 20 de outubro de 2019

O Passado é História!


Não podemos esquecer a história, pois se ela tem uma "função" é a de nos ensinar sobre nós mesmos, enquanto indivíduos, enquanto sociedade, enquanto seres humanos. Faze-mo-la em cada escolha que decidimos, fazendo-a no presente, buscamos referências no que ocorreu, para aprimorarmos e tentarmos evitar erros que necessariamente nem foram nossos. Padrões se repetem, ou ao menos tentam se repetir, e superar este ciclo, romper esses paradigmas é um importante desafio para quem deseja trilhar o caminho da autonomia e do verdadeiro questionamento sobre si, visto que não é fácil se impor diante de alguns dogmas tão fortemente estabelecidos pela sociedade. O passado é história e, mais do que isso, é lição de história, não aquela que se conta para dormir, mas aquela que se escreve na subjetividade da ação de ser humano, pois historiciar é se colocar como agente do que faz a gente ser gente.
Ignorar a história é correr o risco de repetir os mesmos erros do passado, enquanto que se prender meramente aos fatos do passado, sem aprender as lições e transformar a partir do que eles ensinam é tão somente se perder num tempo que não condiz com o presente. Há uma linha muito tênue entre passar pelo passado e se prender a ele; essa linha passa pela nostalgia, pelas memórias afetivas e constitutivas da nossa persona e pelos traços indeléveis que marcam na carne o nosso lugar no mundo, entretanto pensando nisso, retomo à metáfora que tanto gosto sobre o parabrisa e o espelho retrovisor, pois olhar pelo retrovisor nos dá segurança sobre o que passou ou sobre o que nos (per)segue, mas o que importa mesmo é o que está a nossa frente, onde queremos chegar, acredito que por essas e outras os parabrisas são maiores que os retrovisores.
Considerando uma leitura psicanalítica do que foi escrito até aqui, podemos pensar em conceitos como retorno do recalcado, fantasma e fantasia, de forma bem superficial diríamos que o "retorno do recalcado", equivale à "volta dos que não foram", algo que se encontra reprimido forçando a barra para se fazer ouvir. O fantasma seria aquela manifestação que só tem voz a partir dos "vivos", pois o fantasma em si, só se manifesta a partir de alguém que fale com ele, que o veja e que o dê voz, como um ventrículo que dá vida ao seu marionete. Já a fantasia entretanto, tem mais uma relação com a alienação, ou seja, com a incapacidade de criar sua própria narrativa em oposição ao desejo do Outro, algo que demanda certo "manejo" para que possa ser transposta e que afinal, nos constitui enquanto "verdade".
Guiar a vida é estar atento às sutilezas da história, revisando o passado, mas transformando-o em novos textos, a partir dos novos contextos do presente, numa perspectiva de que o futuro pode sim ser diferente historicamente, até porque cada um e todos nós podemos aprimorar nossa existência sobre a face da Terra a partir do que vivemos e da leitura que fazemos dessas vivências.