segunda-feira, 30 de março de 2020

Profundo


Para onde vamos quando queremos isolamento? O que fazemos quando nos sentimos isolados? Como lidamos com o isolamento autoimposto? O que sentimos quando o isolamento nos abraça, independente de quantas pessoas estejam ao nosso redor? Talvez a resposta para todas essas perguntas seja “Vamos pro fundo”... e nas profundezas de nossa existência temos luz e escuridão, temos silêncios ensurdecedores e tememos o que não podemos (nem queremos) ver. Profundo é o mergulho que o encontro conosco nos proporciona, pro fundo é onde nós se encontram apertados, sufocando, prendendo e imobilizando monstros que são nossos, que somos nós mesmos.
Em época de “pandemia” ressurge o Pã, ou Pan, deus grego que andava à noite nos bosques, tinha chifres, pés de bode, tocava flauta e dançava com ninfas, sua descrição lembra o fauno (ou sátiro) “ guardião do Percy Jackson”, mas Pan deu origem à expressão pânico, porque andava pela escuridão da noite e quem se propunha a fazer viagens noturnas tinham pavores súbitos acerca do que não podiam ver... Ora, vejam se não estamos diante do pânico pandêmico de um vírus (organismo microscópico e que “não se pode ver”) trancados em nossas casas, lançados em nós mesmos, amarrados por esses nós, cheios de medos e dúvidas...?
Creio que uma boa forma de minimizar o pânico e iluminar nossa escuridão é nos informando, compartindo, compartilhando sentimentos, sensações, angústias, alegrias, comida, sorrisos... dividindo, de longe ou de perto, pois mesmo em nossas profundezas, somos humanos que amam, que querem amar, que querem o mar, o mar de emoções que nos alavancam, nos removem das profundezas escuras do pânico, que enfraquecem o “pandemônio” que a pandemia esfrega em nossas caras.
Que saiamos das nossas profundezas mais iluminados do que entramos, que notemos e valorizemos a presença do outro, que tenhamos a simplicidade de dizer que amamos e que sejamos sinceros nos ditos, coerentes com os não ditos, tentado de toda forma minimizar os ‘mal-ditos’, mal interpretados, malfazejos. Sejamos humanos profundos, pois profunda-mente somos crianças potencialmente capazes de sermos seres cada vez melhores.
Fique em casa, mas dê um “oi” no profundo de alguém, para que este saiba que não precisa estar sozinho no isolamento, senão nos sobrará o nada e só... lamentos.


Fábio Bispo, em 30/03/2020, ao lado do meu amor.

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