E de repente eles foram embora... todos eles, como se você tivesse contraído SIDA, ou pior, porque na doença fica a dó, a piedade, na verdade é muito pior, pois na doença eles se aproximam para saber de você, muito mais que a dó e a piedade, se aproximam por curiosidade, para fazê-lo lembrar de como você era quando tinha saúde...
Os amigos se foram, simplesmente sumiram, partiram dessa pra uma melhor... ou será que não? O que mudou então? Porque é notório que algo está diferente.
Sim, algo mudou, mas não foram eles que foram embora, foi você que notou que nunca os teve por perto, nunca foram seus, nunca te deram nada, ao contrário eles queriam de você, a sua força, inteligência, percepção e alegria, mas só estavam próximos quando os convinha estar, nunca levantaram uma espada para te defender, diferentemente de você que sangrou por eles.
Amizade é lealdade, confiança, amor e carinho, é o bom e velho bem querer, algo que há muito a sociedade renega em prol de um cargo, de algo fugaz, de qualquer coisa menos importante do que realmente importa em nossa breve e volátil passagem sobre essa Terra, o compartilhar de experiências, o favorecimento da harmonia nesse planeta, entre humanos e os outros animais e com o espaço que os cercam. Mas infelizmente não essa a visão que as pessoas tem ao se entenderem enquanto seres humanos, o que há é uma deturpação de valores, por preços, o que se pretende é acumulação de capital, status ou qualquer coisa que o valha, não importa quem você é, mas sim o quanto você tem e quanto você pode me favorecer a ter, e ai nessa lógica percebe-se que eles nunca foram amigos, foram vampiros vorazes pelo que poderiam sugar de você e que, simplesmente, depois que tiram tudo que conseguirem deixam-no ao relento da sua inutilidade.
Entretanto, você é forte e será capaz de recompor suas energias, vislumbrando a melhoria do planeta, a harmonia das pessoas e acreditando na amizade a tal ponto de se deixar enganar por outros vampiros, muito bem intencionados para sugá-lo novamente enquanto você exercita a esperança em encontrar e se unir a pessoas com caráter, honra e a crença no âmago de outro, ou até o dia em que sugem-no tanto que o que sobrará de você é a lembrança do que você fez.
Se os amigos compreendessem que não são os presentes, o dinheiro, o emprego, a promoção, a casa ou o carro que dizem quem você é e sim o ouvido atento, a palavra acalentadora, o abraço reconfortante e o silêncio companheiro que realmente contam, talvez não precisassem ir, e buscariam sim, aproximação e o aumento do que se chama círculo de amizades... Sinto muito por eles, rogo por discernimento para suas mentes atrofiadas pelo que é tangível e, portanto, finito.
Fábio Bispo, perto da desesperança, mas ainda no combate. 23/12/2014.
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